cavalo pedro,
se você de repente se põe a pensar que hoje saiu de bicicleta e deixou a moto na garagem porque chovia e estava cansado demais pra carregar o peso da capa protetora preferindo a leveza de se molhar na chuva de segunda gelada e todas as outras vantagens da bicicleta do tipo posso-carregar-ela-nos-ombros e me-equilibro-quando-o-farol-fecha ou ando-na-contramão-sempre-que-quero claro tendo que ser inteligente o suficiente pra calçar os velhos tênis com graxa acumulada nas laterais e furos de impaciência pros dedões gordos e excitados que nos dias de desespero cavaram seu próprio buraco para a liberdade - só pra depois descobrirem que estavam presos por ossos em uma longa família de dedos menores amordaçados pela meia (velha meia, velha memória) eu mesmo amordaçado por memórias agradecendo ao vento por varrê-las de minha cabeça, por esfriar minhas orelhas já tão quentes ouvindo os tantos dos meus pensamentos. eu morreria em poucos dias sem sol, morreria feito uma planta (com sorte, seca e em pé) e pela eternidade (ainda com sorte) secaria ao sol e balançaria ao vento, já sem orelhas sem pensamentos. morreria se ficasse em casa por mais tempo, se deixasse de sentir frio. foi a moto quem me ensinou a gostar do frio; me ensinou como um cavalo ensinaria - rápido e para a frente. no verão sonhei que queria ser um cavalo - agora, no último dia de inverno, sonho que um cavalo quer ser eu.

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