o fato de que existem bancos e o fato de que existe dinheiro e o fato de que existem supermercados que nunca fecham fazem meus olhos se fecharem ao fim de uma caminhada-solitária-noturna iluminada por um espírito branco de lua após duelos intermináveis com ladeiras impossíveis e orgasmos com descidas delicadas e traçoeiras e orgias com esquinas e ruas sem saída e sem direção.
sou um voluntário
os olhos se fecham quando sento ao lado de um banco. ao lado, não sento no banco. os papéis já estão pré-definidos demais. precisamos rasgar os papéis. precisamos fumar os papéis.
sou um representante
durmo o sono dos que não dormem. durmo o sono dos que acordam. durmo o sono dos que tem ouvidos estuprados por despertadores-eletrônicos-pechincha-linha-de-produção-chinesa e quando acordo tenho três duendes à minha volta. olho pro mais baixo e pergunto se ela já chegou. ele tosse e pergunta indignado "ela quem?". os outros me puxam pelo braço e me levantam.
sou um doador de órgãos
as velhas fogem, os cães sorriem. não inspiro confiança. uso um jeans barato e ando com malícia pelas ruas enquanto procuro um bom lugar pra sentar. os cães me amam mas não encontro lugar. a cidade é uma vadia e não quer ninguém sentado. a cidade é uma máquina de fliper de pernas abertas esperando pelas moedas. quer que eu pague pra viver.
sou um maço de marlboro
- cidade, tu és a pior das vadias. morrerei de fome, de sede, de amor, mas não vai me tomar as moedas que não tenho. exibe tuas feridas abertas mas tenho consciência do sangue que vive em meu corpo. seu amor é um amor doente. um amor de amanhã. uma promessa. um pouco de esperma no cérebro.
sou um trainee cheirando cocaína no banheiro da lex corp
os loucos pensam que são loucos mas continuam respirando numa frequência pré-determinada. é preciso planejamento para enlouquecer. um plano de carreira, econômia doméstica, controle de natalidade, revisão de freios, baterias anti-aéreas, alimentos com fibras, tetos de vime e potes que vão ao microondas.
sou um pinto-roxo-cabeçudo
- quando se trata de amor continuo sendo um mendigo, mas não estendo mais a mão pra você. fico com ela nos bolsos, mexendo nas moedas que não tenho. os cães sorriem, as velhas latem. a ração do bebê já deve ter acabado e os postos de gasolina agora empregam tantas mulheres quanto homens.
pro inferno com tudo isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário