e eu estava a ponto de falir o posto de gasolina que havia montado alguns anos atrás naquela estrada deserta. Quando comprei o terreno, o antigo dono me garantiu que em menos de 3 anos a rodovia seria uma 'highway', com centenas de restaurantes e milhares de passageiros comendo estrada dia após dia, bebendo gasolina e me deixando rico e satisfeito.
A realidade é que eu nunca vi dois modelos de carro se repetindo no mesmo dia e, por deus, passo o dia todo sentado no banco em frente ao posto e a única coisa que tenho pra fazer é olhar pra essa maldita rua gigante fritando ao sol. Nos últimos meses meus únicos clientes foram uns hippies sujos, que tinham "caído na BR", como eles mesmos diziam. Queriam lugar pra dormir, queriam comida, mijavam por toda a parte e, é claro, não tinham um centavo furado.
Lembro como se fosse hoje, estava olhando pra estrada quando vi se aproximar um carro, um velho chevette marrom. Ele começou a diminuir a velocidade e deu seta para entrar no posto. O carro estava caindo aos pedaços, mas afinal, era um carro, o primeiro de muitas semanas. Corri para apanhar meu quepe e fingi naturalidade ao recebê-lo, como se estivesse acostumado a receber muitos clientes como ele. O motorista era um jovenzinho com ar de empreendedor. Não tinha barba por fazer, não fedia nem carregava uma mochila com panelas penduradas; graças a deus não era hippie, devia estar querendo gasolina. Eu tinha troco, quanto ele precisasse.
- Boa tarde senhor, quanto vai querer?
- Foi aqui que desceu um disco-voador, semana passada?
- Como? - Eu tinha ouvido, mas tinha pouca paciência para brincadeiras, a solidão havia secado minha vontade de conversar. Havia tão pouco a dizer. Mas era meu único cliente. Eu faria um esforço.
- Não, eles não tem vindo aqui ultimamente. - respondi com um sorriso forçado. O jovem não alterou sua feição. Tratava o assunto com seriedade.
- Você entraria num disco-voador? Pra dar uma volta?
Maldição, saiam os hippies, entrava um lunático.
- Se eu não tivesse que trabalhar sim, mas agora, com licença, PRECISO trabalhar. Pensei que quisesse gasolina.
- E se eu dissesse que você tá morto?
- O que? Garoto, se pensa em me assaltar já lhe aviso que não tenho dinheiro, você é a primeira pessoa que aparece aqui com um carro nas últimas semanas. Todos os outros foram hippies que só mijavam e mijavam...
- Nada disso, me desculpe. Você me entendeu mal. Estou apenas brincando. É porque eu queria que você visse um disco-voador como eu vi. Cheio de luzinha, todo redondinho, coisa de louco cara. Queria que você visse.
- Bom, eu tenho que entrar agora, tudo bem? Obrigado por me dizer sobre os disco-voadores. Vou ficar de olho pra ver se vejo algum, ok?
- Sério? Vai mesmo? Escuta, espera, posso te ajudar mais.
- Não, não é necessário.
- Ei, deixa disso. Me diz a que horas você fecha o posto, eu passo, te pego, a gente sai pra jantar junto, todos os dias dessa semana, e aí eu vou te explicando tudo o que sei sobre os discos. Cara, eles são lindos, eu sei que você vai adorar e...
- Amigo, sou um homem velho e cansado. E estou muito ocupado, acho que não vamos poder jantar juntos.
- Você tá morto.
- O QUE? - De novo eu tinha ouvido.
- Nada, é brincadeira. Então, vamos fazer o seguinte. Me escreve o endereço daqui, a gente conversa por cartas e eu vou ter muito prazer em te ensinar tudo que sei.
- Olhe aqui garoto, obrigado pela sua boa vontade, mas aqui eu ponho um ponto final nessa conversa sem pé nem cabeça, por favor entre no carro e vá embora daqui.
- Mas gostei de você, tenho tanto pra te dizer, apesar de que...
Ele ia dizer que eu estava morto novamente. Tirei a arma da cintura, apontei pro Chevette e avisei:
- Saia daqui agora mesmo ou estouro seus quatro pneus e depois meto uma bala em você!
Ele me fez perder o controle. Meu Deus, eu era um padre, o que estava fazendo? Sentia como se estivesse me masturbando. A faca do pecado cravava minhas costas.
- Opa, opa, tudo bem, a conversa acabou. - O maluco tinha um pingo de bom senso. - Mas cara, não posso ir embora porque estou sem gasolina, coloque meio tanque por favor.
- Peça aos seus amigos extra-terrestres.
- Não cara, eles não usam gasolina, usam um negocio muito melhor.
- Sabe o que pensei agora?
- Não, mas por favor me diga, adoraria saber.
- Que sou padre há mais de trinta anos e isso não me impediu de querer meter uma bala na sua cabeça.
- O senhor é padre? Sabia que tinha algo especial. Tenho trabalhado tanto minha fé ultimamente. Os discos tem me ajudado tanto que...
- Use a sua fé e mije no tanque, filho duma puta! Você tem um minuto pra sumir daqui ou juro por Deus que cravo seu cú de bala!
O cara mija e o carro pega. Antes de sumir na estrada ainda virou e me acenou. Vai ter fé assim na puta que pariu.
A realidade é que eu nunca vi dois modelos de carro se repetindo no mesmo dia e, por deus, passo o dia todo sentado no banco em frente ao posto e a única coisa que tenho pra fazer é olhar pra essa maldita rua gigante fritando ao sol. Nos últimos meses meus únicos clientes foram uns hippies sujos, que tinham "caído na BR", como eles mesmos diziam. Queriam lugar pra dormir, queriam comida, mijavam por toda a parte e, é claro, não tinham um centavo furado.
Lembro como se fosse hoje, estava olhando pra estrada quando vi se aproximar um carro, um velho chevette marrom. Ele começou a diminuir a velocidade e deu seta para entrar no posto. O carro estava caindo aos pedaços, mas afinal, era um carro, o primeiro de muitas semanas. Corri para apanhar meu quepe e fingi naturalidade ao recebê-lo, como se estivesse acostumado a receber muitos clientes como ele. O motorista era um jovenzinho com ar de empreendedor. Não tinha barba por fazer, não fedia nem carregava uma mochila com panelas penduradas; graças a deus não era hippie, devia estar querendo gasolina. Eu tinha troco, quanto ele precisasse.
- Boa tarde senhor, quanto vai querer?
- Foi aqui que desceu um disco-voador, semana passada?
- Como? - Eu tinha ouvido, mas tinha pouca paciência para brincadeiras, a solidão havia secado minha vontade de conversar. Havia tão pouco a dizer. Mas era meu único cliente. Eu faria um esforço.
- Não, eles não tem vindo aqui ultimamente. - respondi com um sorriso forçado. O jovem não alterou sua feição. Tratava o assunto com seriedade.
- Você entraria num disco-voador? Pra dar uma volta?
Maldição, saiam os hippies, entrava um lunático.
- Se eu não tivesse que trabalhar sim, mas agora, com licença, PRECISO trabalhar. Pensei que quisesse gasolina.
- E se eu dissesse que você tá morto?
- O que? Garoto, se pensa em me assaltar já lhe aviso que não tenho dinheiro, você é a primeira pessoa que aparece aqui com um carro nas últimas semanas. Todos os outros foram hippies que só mijavam e mijavam...
- Nada disso, me desculpe. Você me entendeu mal. Estou apenas brincando. É porque eu queria que você visse um disco-voador como eu vi. Cheio de luzinha, todo redondinho, coisa de louco cara. Queria que você visse.
- Bom, eu tenho que entrar agora, tudo bem? Obrigado por me dizer sobre os disco-voadores. Vou ficar de olho pra ver se vejo algum, ok?
- Sério? Vai mesmo? Escuta, espera, posso te ajudar mais.
- Não, não é necessário.
- Ei, deixa disso. Me diz a que horas você fecha o posto, eu passo, te pego, a gente sai pra jantar junto, todos os dias dessa semana, e aí eu vou te explicando tudo o que sei sobre os discos. Cara, eles são lindos, eu sei que você vai adorar e...
- Amigo, sou um homem velho e cansado. E estou muito ocupado, acho que não vamos poder jantar juntos.
- Você tá morto.
- O QUE? - De novo eu tinha ouvido.
- Nada, é brincadeira. Então, vamos fazer o seguinte. Me escreve o endereço daqui, a gente conversa por cartas e eu vou ter muito prazer em te ensinar tudo que sei.
- Olhe aqui garoto, obrigado pela sua boa vontade, mas aqui eu ponho um ponto final nessa conversa sem pé nem cabeça, por favor entre no carro e vá embora daqui.
- Mas gostei de você, tenho tanto pra te dizer, apesar de que...
Ele ia dizer que eu estava morto novamente. Tirei a arma da cintura, apontei pro Chevette e avisei:
- Saia daqui agora mesmo ou estouro seus quatro pneus e depois meto uma bala em você!
Ele me fez perder o controle. Meu Deus, eu era um padre, o que estava fazendo? Sentia como se estivesse me masturbando. A faca do pecado cravava minhas costas.
- Opa, opa, tudo bem, a conversa acabou. - O maluco tinha um pingo de bom senso. - Mas cara, não posso ir embora porque estou sem gasolina, coloque meio tanque por favor.
- Peça aos seus amigos extra-terrestres.
- Não cara, eles não usam gasolina, usam um negocio muito melhor.
- Sabe o que pensei agora?
- Não, mas por favor me diga, adoraria saber.
- Que sou padre há mais de trinta anos e isso não me impediu de querer meter uma bala na sua cabeça.
- O senhor é padre? Sabia que tinha algo especial. Tenho trabalhado tanto minha fé ultimamente. Os discos tem me ajudado tanto que...
- Use a sua fé e mije no tanque, filho duma puta! Você tem um minuto pra sumir daqui ou juro por Deus que cravo seu cú de bala!
O cara mija e o carro pega. Antes de sumir na estrada ainda virou e me acenou. Vai ter fé assim na puta que pariu.
Um comentário:
Olá, gostei do conto, bem intrigante...bom falar com vc...um beijo!
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